Dizem que na palha do dendê
Dizem que na palha do dendê
Tá todo movimento
Sai todo movimento
Girassol pra guiar o vento
Está sempre em movimento
Andorinha embaraçou no murimbó
Andorinha embaraçou no girassol
Pede pilão pra pisar o quê
Pede pilão pra pisar o quê
Pisa milho de pipoca
Pisa milho de pipoca
Tinha semente de Loko
Tinha semente de Loko
Tinha palha da costa
Uma macumba, macumbegê!
Ouvir um som de viola
Um som que soava berimbau
Ouvir um som de viola
Um som que soava berimbau
Berimbau ê, Berimbau!
Berimbau ê, Berimbau!
Os dedos escorregam pelas cordas
De Angola a Regional
Arreia esse cesto sinhá
De malamá
Areia esse cesto sinhá
De malaquê
Maxixe veio dizer
Dinorá já chegou
Maxixe veio dizer
Dinorá já chegou
Percebeu ouviu de lá
Trouxe mel na cabaça
Percebeu ouviu de lá
Trouxe mel na cabaça
Faz roda aê
Faz roda
Faz roda aê
Faz roda
Mandizé que mandou dizer
Mandizé que mandou falar
Capoeira deu dendê
No violão de cabaça
Ê capoeira
Ê capoeira aiai
Xiriquipá tutupá!
Xiriquipá tutupá!
Maria venha ver Zé sambar pra você
Maria venha ver Zé sambar pra você
Apareceu marujo
Apareceu capangueiro
Apareceu boiadeiro
Apareceu
Seu Sultão mandou dizer
É hoje
É hoje que o couro vai comer
E joga o laço
Pegue o gado
Toma cuidado
Que o gado é bravo
Garrote novo tá lá no pasto
Ê!
Salve a marujada! Ê!
Salve Seu Capangueiro! Ê!
Seu Boiadeiro! Ê!
Ciciporã! Ê!
Agué Agueno Beno! Ê!
Salve seu Juremeiro! Ê!
Seu Pedra Preta! Ê!
Seu Tubansé! Ê!
Segunda vez:
Ê!
Salve a marujada! Ê!
O Rei das Matas! Ê!
Salve Seu Capangueiro! Ê!
Seu Boiadeiro! Ê!
Ciciporã! Ê!
Salve o Caboclo Gentileiro! Ê!
Seu Pedra Preta! Ê!
Seu Laje Grande! Ê!
Salve Cabocla Iracema! Ê!
Agué Agueno Beno! Ê!
Martim Pescador! Ê!
Salve Seu Tubansé! Ê!
Lê, lê, lê! Ê!
La la la la! Ê!
Salve o Rei das Águas! Ê!
O Rei das Folhas! Ê!
O Rei das Matas! Ê!
Seu Sete Flechas! Ê!
Caboclo Muriti! Ê!
Seu Sete Estrelos! Ê!
Seu Pena Branca! Ê!
Tupinambá! Ê!
Salve Caboclo Eru! Ê!
Seu Trovezeiro! Ê!
Seu Junco Verde! Ê!
Lê, lê, lê, lê!
Ê!
Lá no meio do terreiro
Tem um pé de araçá
Toda vez que vou lá
Vou tirar Aguidavi
Pra tocar no tambor
Pêro, Pêro, Pêro
Couro no tempero
Pêro, Pêro, Pêro
Couro no tempero
Menino sai de perto
Faísca de fogo vai queimar
Menino sai de perto
Faísca de fogo vai queimar
Sai! Sai!
Sai pra lá, menino!
Tá com zaumbê, zazazazá
Tá com zaumbê, zazazazá
É dia de festa
De cada um
Aqui cada um tem seu dia de festa
Ô de pé no chão
Pisou na folha, levou barravento
De pé no chão
Pisou na folha, levou barravento
Tá com zaumbê, zazazazá
Tá com zaumbê, zazazazá
Mariô agô, ê mariô
Mariô agô, ê mariô
Patacori ogum ê!
Ikikirikiriki, ki, ki
Ikikirikiriki, ki, ki
Hoje é quinta-feira
Dia de Oxóssi
Agangatolú
Omorodé
Rum Pi Lé no barracão
Aguidavi na mão
Chama Amâncio pra acender o candeeiro
Xirê, Xirê, Xirê
Xirê, Xirê, Xirê
Xirê, Xirê, Xirê
Xirê, Xirê
Xirê, Xirê, Xirê… vai começar
Xirê, Xirê, Xirê… Huntó Lewá
Xirê, Xirê, Xirê… Xirê, Xirê
Milho com côco
No prato de aguidar
Xixin no azeite
Pra eu arriar
Acorda na roça
Entra na mata com seu ofá
Sai com a caça pra todos comer
Pra todos comer
Odé Logun Edé
Chama do Jêje pra tocar Agueré
Odé Logun Edé
Chama Cardoso pra tocar Agueré
Odé Logun Edé
Chama Tiago pra tocar Agueré
Odé Logun Edé
Chama Paulinho pra tocar Agueré
Xirê, Xirê, Xirê…
Segunda vez:
Odé Logun Edé
Chama Seu Lucas pra tocar Agueré
Odé Logun Edé
Chama Kainã pra tocar Agueré
Odé Logun Edé
Chama Alan pra tocar Agueré
Odé Logun Edé
Chama Letieres pra tocar Agueré
Xirê, Xirê, Xirê…
Salve Huntó Amâncio!
Salve Agangatolú!
Quembê, quembê, quembê, quembê
Quembê, quembê, quembê, quembê
Vem das matas virgens vem
Vem das matas virgens vem
Vem das matas virgens vem
Da cera da terra
Do mel de capela
Raiz de jaqueira
Varando a terra
Vem das matas virgens vem
Vem das matas virgens vem
Da cera da terra
Do mel de capela
Raiz de jaqueira
Varando a terra
Ô Luanda cadê seu Luandê
Ô Luanda vai lá na quitanda
Escorrega de banda
Ô Luanda cadê seu Luandê
Ô Luanda vai lá na quitanda
Escorrega de banda
A francesa vai
A francesa vai
A francesa vai
Bocapio viu
Quem não viu, quer ver
Chico Melabenguê
about
LADO A (21:13)
Ibaô-Ogum (7:34)
(Luizinho do Jêje)
Na palha do dendê (5:39)
(Luizinho do Jêje, Magary e Peu Meurray)
Violão de cabaça (8:00)
(Luizinho do Jêje, Nem Cardoso e Magary)
part. Gilberto Gil
LADO B (28:42)
Salve os Caboclos (6:07)
(Luizinho do Jêje e Nem Cardoso)
part. Carlinhos Sete Cordas
Couro no tempero (7:53)
(Luizinho do Jêje e Magary)
Xirê (8:58)
(Luizinho do Jêje, Nem Cardoso e Peu Meurray)
Chico Melabenguê (5:44)
(Luizinho Do Jêje, Magary e Peu Meurray)
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TEXTO NEI LOPES
“Quem come em mesa bonita tem que usar camisa limpa”, diz a sabedoria de nossos ancestrais africanos. Por isso, abro esta breve apresentação primeiro informando que este não é um álbum de músicas rituais, sagradas. Mas que também não é de canções para simples entretenimento. Pois o que esta obra de arte propõe a você, caro leitor, é uma longa viagem atlântica, de ida e volta, do Brasil ao Golfo de Benin e à chamada Costa dos Escravos. Mas sem nenhum rancor ou ressentimento. Muito pelo contrário! Pois nossa viagem é um lauto banquete e acontece em uma das principais fontes da pujante e inesgotável africanidade brasileira.
Como todos sabemos, jêje é o termo que designou, no Brasil escravista, cada um dos africanos ou africanas provenientes do antigo reino de Daomé, no território da atual República do Benin, e hoje adjetiva tudo o que se refere ao legado cultural desse povo. Da mesma forma, o termo nagô foi, na origem, o termo usado pelos daomeanos falantes da língua fon, aqui chamados jêjes, para designar os falantes da língua hoje conhecida como iorubá. Fortes, poderosos, orgulhosos, esses dois povos, — como muitos vizinhos europeus, asiáticos etc. até hoje — alternavam relações ora de paz ora de guerra encarniçada. Mas em solo brasileiro, a partir da Bahia, construíram juntos um admirável complexo cultural, do qual este Aguidavi do Jêje, que orgulhosamente apresentamos, é um exemplo eloquente e oportuno. Se não, vejamos.
Aguidavi é a vareta com que são percutidos os três tambores rituais do candomblé jêje-marrim, chamados rum, rumpi e lé. Todas essas quatro denominações vêm da língua fon, sendo jêjes portanto. Como também o nome da comunidade-terreiro onde se originou o grupo percussivo protagonista do presente lançamento, o Zoogodô Bogum Malê Rundó, cujo significado ainda permanece relativamente secreto até mesmo para os estudos mais avançados. Tentativamente, eles tem sido assim apresentados: Zogbodó como “corte de cabelo identificador dos filhos da divindade Sakpatá”, o Omolu ou Obaluaiê dos nagôs; Bogum, associado a Agbogun, divindade protetora da capital do Daomé; o elemento Malê é mostrado como prova da ligação da comunidade com a principal insurreição dos escravizados na Bahia, ocorrida em 1835; e Rundó pode ser a forma brasileira para a forma verbal hun dò, "abrir o buraco", de sentido incerto.
Quanto ao repertório deste Aguidavi do Jêje, o que temos a dizer é que ele é também uma viagem percussiva e melódica por diversas possibilidades, a qual inclui a sonoridade da viola de cabaça, de feitura artesanal, característica da chula baiana, definida em um registro do músico Roberto Mendes como “comportamento traduzido em canção” (Fundação Cultural Palmares, 2008). Assim, na viagem, o jêje abraça o nagô sem qualquer impedimento, tanto no “Ogum” da segunda faixa do Lado A, quanto no "Xirê" da terceira faixa do Lado B.
Observemos que, na música tradicional africana, como outras do âmbito folclórico, o padrão é o responsorial, ou seja, aquele onde o coro responde à chamada do solista. Isto se observa tanto nos rituais religiosos quanto nos simples folguedos. Assim, aqui nos ocorre uma afirmação do sambista Buci Moreira, neto da legendária Tia Ciata, matriarca da comunidade baiana do Rio de Janeiro, em uma entrevista, aqui citada de memória: “O samba na casa da minha avó era só aqueles corinhos, em que o cantor improvisava”. Entretanto, no presente álbum, as letras de Luizinho do Jêje e parceiros enriquecem o rito, com onomatopeias de magnífico efeito, como xiriquipá tutupá; malamá malaquê; zaumbê, zazazazá; brugudu, brugudu, indo até o velho Daomé e voltando até nós. E até mesmo, como no "Xirê" acima mencionado, invocando um importante orixá do panteão nagô-ijexá que a saudosa Mãe Menininha do Gantuá dizia ser o “santo menino que velho respeita", o odé Logum Edé.
Este é um álbum de festa. No qual o mistério permanece. Mas as diferenças étnicas e linguísticas não têm maior importância. Afinal, Exu e Elegbá, Ogum e Gu, Xangô e Hevioso, orixás e voduns, todos são partes desta poderosa união jeje-nagô criada ao mesmo tempo por Olodumare e Mawu-Lissá. E que o Aguidavi de Luizinho do Jêje e seus músicos prepararam, para nossa degustação e nosso deleite.
Ajeum! Bom apetite! Axé!
Nei Lopes — novembro de 2022
credits
released November 30, 2023
Grupo:
Luizinho do Jêje
Nem Cardoso
Alan Teles
Danilo Jesus
Danilo T’challa
Enzo Xablinha
Gabriel Santana
Ícaro Sá
Jadson Xabla
Jeferson Chagas
Kainã do Jêje
Kaique Mello
Lídio Alves
Lucas Maciel
Negokiri
Paulinho Music
Raysson Lima
Tiago Nunes
-
Ficha técnica:
Direção artística: Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga
Arranjos e direção musical: Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Lucas Maciel
Produção musical: Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga
Gravação: Pepê Monnerat, Edu Costa e Bráulio Passos no Terreiro do Bogum
Gravação de voz, violão e complementos: Pepê Monnerat no Estúdio Rocinante
Gravação de voz Gilberto Gil: Edu Costa
Mistura: Pepê Monnerat, Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Nem Cardoso
Masterização: Götz-Michael Rieth
Coordenação técnica: Flávio Marcos Batata
Assistência de estúdio: Felipe Duriez, Alexandre Aedel Junior e Arlow
Coordenação técnica (SSA): Curujito
Assistentes técnicos (SSA): Raphael Santos e Marquinhos
Auxiliar (SSA): Giovane Goiaba
Roadies (SSA): Flavio Pereira São Pedro e Luciano Melo Bogum Toby
Coordenação artística: Jhê
Produção executiva: Luanda Morena
Fotografias: Diego Bresani
Fotografias com Gilberto Gil: João Atala
Documentário: Rodrigo Siqueira
Projeto gráfico: Julio Dui — Mono
supported by 4 fans who also own “Aguidavi do Jêje”
Oh my days, how do I love this album? Let me count the ways. A kind of supergroup of 4 talented musicians who've come to together to make something extremely special. Yes, it leans heavily on classic MPB and Tropicalia classics, but it wears its influences lightly on its sleeve not least because the songwriting is uniformly fantastic throughout.
It manages to sound fresh while feeling like you've known it all your life. What a find this band are. Thank you Mr Bongo for releasing this! Mondo Pop
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